quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Treinador fantasma




No site da Liga, Frank Vercauteren ainda surge na listagem dos treinadores como responsável pela equipa do Sporting. Mas o mais estranho é que na ficha do jogo de Olhão o treinador tenha sido Oceano Cruz.
O formalismo da Liga nesta matéria é bizarro, uma vez que não se faz respeitar em qualquer das situações reais, seja no comando da equipa durante o jogo, seja nas conferências de imprensa e flash interviews regulamentares.
O caso não é exclusivo do Sporting. A Liga também identifica os treinadores do Estoril Praia, do Rio Ave e do Paços de Ferreira com nomes «oficiais» (Fabiano Soares, Augusto Gama, Pedro Moreira), que não coincidem com quem realmente lidera essas equipas, respectivamente Marco Silva, Nuno Espírito Santo e Paulo Fonseca.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Decisões que provocam confusão

Muito discutido pelo que fez e não fez no Benfica-Porto, o árbitro João Ferreira levou ao extremo a intenção de não castigar disciplinarmente os jogadores. Pode passar à história como um dos raros árbitros que não expulsou nenhum jogador em tantos clássicos entre os dois grandes rivais, em particular nos últimos 30 anos. 
João Ferreira conseguiu não se estrear. Mas para isso ser possível, entrou em contradição flagrante com uma decisão grave que tomara na sua anterior passagem pela Luz, quando expulsou o jovem André Gomes. 

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O hacker


Segundo a organização, durante 30 segundos (que foram mais), o site oficial validou um golo inexistente de Cardozo e declarou o Benfica vencedor por 3-2. Pareceu obra de hackers, mas foi apenas um erro captado por um jornalista, ampliado nas redes sociais e, finalmente, proclamado urbi et orbi no Blackberry do presidente portista como uma malfeitoria de uma organização que gostaria de falsificar os resultados do seu clube. É muito mais fácil fazer demagogia do que enfrentar os adversários nas Assembleias Gerais.

publicado no Correio da Manhã de 15-01-2013

domingo, 13 de janeiro de 2013

Cabelos brancos



Houve um tempo no futebol em que a antiguidade era um posto, os jogadores jovens tratavam os mais velhos por senhor e os treinadores eram poços de sabedoria comprovada, bem diferente desta moda dos jogadores de catálogo e dos técnicos de aviário. Os árbitros tinham de sobreviver a longas carreiras até se tornarem respeitados e os adeptos iam à bola pela mão dos pais, começando por aprender as regras de jogo e as da convivência.

Esta evocação faz sentido no dia em que a Liga envelhece com a estreia, em frente-a-frente, de Jesualdo Ferreira e Manuel Cajuda, os únicos sexagenários de um campeonato que tinha começado com a mais baixa média de idades de sempre entre os treinadores. Tal como já acontecera no ano passado, a aflição dos clubes fá-los apelar à experiência, ao saber e à calma dos veteranos.

A irreverência dos jovens vive na proximidade do dislate, da precipitação, do erro de cálculo. Por isso, quando uma equipa em crise aguda de confiança, como o Sporting, apela aos serviços de quem já tenha enfrentado situações tão más ou piores, para interromper um ciclo nas mãos de lideranças imaturas, o sofrimento torna-se mais leve de suportar e a solidariedade cresce na razão da simpatia pelos cabelos brancos.

A experiência e a falta dela, a bonomia e a crispação, a tranquilidade e a sofreguidão, o saber e o pretensiosismo, o Mundo e a paróquia – eis o que também traduz, neste dia em que o campeonato começa a amadurecer, os 14 anos de vida e de futebol que separam Jorge Jesus de Vítor Pereira, independentemente deste ou daquele resultado pontual.
E ainda foram a idade, as longas épocas e os muitos clássicos que recomendaram a escolha de João Ferreira para o grande confronto de hoje. O afastamento dos árbitros aos 45 anos é, aliás, um dos absurdos do futebol moderno, em contraste com outros desportos profissionais, porque a falta de experiência é a maior inimiga das decisões difíceis.

Publicado no Record de 13-1-2013 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Um czar cheio de azar

O russo Izmailov pode estrear amanhã com a camisola do FC Porto, reiniciando ao mais alto nível uma carreira que há vários anos parecia condenada ao declínio, por causa de lesões graves e quebras psicológicas. 
O Czar, como lhe chamavam nos primeiros anos no Sporting, não teve uma carreira condigna com a sua capacidade e atributos técnicos, por um misto de azares múltiplos e dificuldades de comunicação.
A transferência para o Porto é também a grande incógnita do ano. O russo pretende iniciar um ciclo completamente diferente, seguindo as pisadas do antigo colega João Moutinho, a quem há dois anos recriminara a opção de deixar Alvalade para trás em troca de títulos e de reconhecimento mais adequado ao seu potencial.
Subsiste nesta surpreendente transferência a incógnita sobre a sua real condição física, depois de tantos anos e alguns desentendimentos com o departamento médico do Sporting. Se a transferência significa virar as costas ao azar, Izmailov voltará a ser Czar, no Porto, agudizando o desconforto entre os adeptos leoninos relativamente à competência dos seus dirigentes, médicos e técnicos.
Quatro anos foram tempo suficiente para o Sporting encontrar uma solução para Izmailov, apesar das dificuldades de adaptação e do rendimento irregular dos jogadores russos em Portugal. Izmailov segue as pisadas de Yuran, Kulkov e Ovchinnikov, que não «sobreviveram» sequer dois anos ao regime de disciplina e exigência que vigora no Dragão.
Quando João Moutinho saiu do Sporting invocou a ânsia de conquistar títulos e de pertencer a uma equipa compatível com o valor individual que julgava possuir. Dois anos e meio depois, as razões de Izmailov são as mesmas e alertam o Sporting para um problema de sustentabilidade competitiva.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O prazer das reviravoltas



Kardec assinalou a estreia na época com um golo e uma assistência em menos de dez minutos.
O Benfica voltou a ganhar recuperando de uma desvantagem, pela sexta vez na temporada, ultrapassando um inesperado obstáculo levantado pela eficácia da Académica, que fez dois golos nos únicos dois remates à baliza. Como se tivesse prazer em virar resultados!
Jorge Jesus apresentou uma equipa de recurso, com jogadores fora de forma (Roderick, Bruno César, Nolito e Aimar), mas parecia não corre qualquer risco de não ganhar. A vencer perto do intervalo num lance rápido de Lima, o Benfica sofreu o empate no último lance do primeiro tempo, um erro de Bruno César que Makelele aproveitou bem.

Se o empate já era surpreendente, o segundo golo chegou a assustar a Luz e a ameaçar a eliminação da Taça da Liga, com Saleiro a imitar Lima, fugindo ao fora-de-jogo. Estava-se no começo do segundo tempo, mas Jesus não perdeu tempo, lançou Carlos Martins, Kardec e Sálvio e, rapidamente, deu a volta ao resultado, com golos dos dois avançados brasileiros.

Em menos de dez minutos, Kardec marcou de cabeça, a cruzamento de Ola John, e fez uma tabela perfeita com Lima para o terceiro golo, deixando a sua marca na primeira oportunidade que teve na temporada de jogar alguns minutos na equipa principal.

Com 25 minutos pela frente, a Académica ainda ficou reduzida a dez unidades e desistiu da ideia de conseguir o triunfo, não sem antes ter deixado mais um aviso ao Benfica, seu adversário nos quartos-de-final da Taça de Portugal, na próxima semana.


+
O brasileiro Lima ultrapassou uma fase de baixa em que perdeu a titularidade e soma agora 13 golos em todas as competições, tendo falhado o ‘hat trick’ por muito pouco.
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Bruno César e Nolito não conseguem abordar as chamadas à equipa inicial com serenidade e entrega à equipa. Mais uma oportunidade perdida por ambos.

ÁRBITRO
Dois golos, o primeiro de Lima e o de Saleiro, foram marcados em situações limite de fora de jogo. O auxiliar Bruno Trindade protegeu os atacantes e manteve a coerência.
Publicado no Correio da Manhã de 10-1-2013 

sábado, 5 de janeiro de 2013

Um Paços muito seguro



Melhor classificação de sempre no horizonte do clube com maior crescimento no século 21. 
O FC Paços de Ferreira ocupa o 4.º lugar da Liga e tudo indica que estará nas meias-finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga, preparando-se para iniciar amanhã a fase mais exigente da época em que procura a melhor classificação de sempre, com jogos sucessivos contra os três grandes.
Repetindo a fórmula bem sucedida de promover a estreia de treinadores com provas dadas nos escalões inferiores e a chegar aos 40 anos de idade, o Paços de Ferreira saiu de uma época atribulada e reentrou na linha de um jogo seguro, sem riscos desnecessários e muita serenidade. O novo treinador absorveu a cultura do clube e mexeu o menos possível na estrutura da equipa e nos processos de jogo.
O Paços é a equipa portuguesa com menos derrotas, mas talvez tenha beneficiado de um calendário que lhe evitou confrontos com os clubes principais. Agora, seguem-se o Sporting e o Porto para a Liga, o Sporting de novo para confirmar o apuramento para as meias-finais da Taça da Liga, e no fim do mês, eventualmente, o Benfica, na Taça de Portugal.
Os resultados vão confirmar ou não a capacidade desta equipa experiente e combativa para discutir ao nível mais elevado, mas se conseguir conquistar pontos não haverá surpresa. O Paços de Ferreira é o clube com crescimento desportivo mais sustentado ao longo deste século, rivalizando directamente com o Nacional da Madeira e o Marítimo, e tendo já deixado para trás o Vitória de Guimarães e outros emblemas clássicos. Só o Braga e os três grandes estão num patamar superior.
Uma das formas de aquilatar este ranking dos pequenos é o número de pontos conquistados aos três grandes, ao longo deste século. O Paços surge em 4.º lugar com 55 pontos (11 vitórias e 11 empates), muito atrás do Braga (95 pontos), mas já muito perto do Marítimo (59) e do Nacional (56). Em contrapartida, os outros estão distantes: Leiria (48), Belenenses (39), Guimarães (31), Académica (29), Gil Vicente (29), Setúbal (27), Rio Ave (25).

Publicado no Correio da Manhã de 5-1-2013